Última alteração: 2012-11-22
Resumo
Introdução.
Segundo Karl Popper, a filosofia política platônica seria totalitária, e um antecedente intelectual dos totalitarismos modernos. No diálogo platônico intitulado Critão, contudo, encontrar-se-ia, segundo Popper ele mesmo, a defesa de uma concepção da relação moral do cidadão antigo com sua cidade que excluiria absolutamente o totalitarismo como filosofia política.
Objetivos.
O que se fez, pois, por esta pesquisa, foi testar a pertinência da interpretação popperiana de Platão. Tomando-se por fio condutor desse projeto uma leitura rigorosa do Critão, pretendia-se entender se essa aparente inconsistência ou ambiguidade apontada por Popper no pensamento de Platão seria o sinal de uma mudança de sua filosofia política do Critão para obras posteriores — como julga Popper —, ou se, em verdade, a leitura popperiana de Platão seria equivocada e, portanto, ou já no Critão Platão seria um pensador totalitário, ou o argumento do Critão, não propondo uma filosofia política autocrática, seria possivelmente consistente com o de outros diálogos platônicos: caso em que, enfim, seria parcialmente improcedente a acusação de totalitarismo que Popper dirige a Platão.
Metodologia.
A pesquisa desenvolveu-se pela leitura e interpretação de textos de Platão e de Popper — sobretudo do Critão, e da obra de Popper intitulada A sociedade aberta e seus inimigos —, e de textos de intérpretes e comentadores de suas obras.
Resultados.
Observou-se que a interpretação de Popper do Critão funda-se em uma falsa premissa: a de que seria possível ler o discurso das leis de Atenas (no qual Sócrates, personagem principal do Critão, personifica essas leis e fala por elas) como um argumento independente no interior da discussão de Critão com Sócrates. Uma leitura integral do argumento desse diálogo platônico, entretanto, mostra que não apenas o argumento das leis de Atenas não é completo por si só, mas também que há inconsistências entre o que as leis afirmam e o que Sócrates ele mesmo defende quando fala por sua própria pessoa.
Conclusão.
Concluiu-se, portanto, que é equivocada a leitura popperiana do Critão, porquanto uma interpretação mais abrangente e completa da obra expõe que a filosofia ética defendida no Critão, diferentemente do que pretende Popper, nem compromete o personagem Sócrates com uma filosofia política democrática, nem com a negação da legitimidade de regimes iliberais. Assim sendo, é possível que a filosofia política platônica seja, afinal, consistente; de um modo ou de outro, as teses éticas de Sócrates e Platão mostraram-se suficientemente independentes dela para que se rejeitasse de todo a leitura popperiana do Critão.