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Este trabalho realizou um estudo das personagens principais das telenovelas O Bem Amado, Roque Santeiro e Saramandaia, de Dias Gomes  (TV Globo, 1969 - 1985).

Para tanto, foi feita uma revisão bibliográfica sobre o tema teledramaturgia brasileira (MOTTER, HAMBURGER, PALLOTTINI, BORELLI, KEHL, JAKUBASZKO), sobre Dias Gomes (QUINTAS, RIBEIRO, MERCADO, SACRAMENTO) e sobre construção da personagem de ficção (COMPARATO, FIELD, McKEE, BRAIT, CANDIDO), além de um clipping sobre as telenovelas estudadas na mídia especializada sobre o tema. Foi desenvolvido, ainda, um estudo inicial sobre o conceito de carnavalização de Bakhtin, importante para compreender as personagens de Dias Gomes.   

Também foi necessário observar o contexto de produção das narrativas a partir do quadro geral do que foi o movimento artístico e cultural brasileiro na época das telenovelas apontadas para estudo e, além disso, buscar nas representações da telenovela marcas de brasilidade, de elementos que podemos identificar como típicos das identidades nacional e regional, de modo a confirmar a construção de um gênero discursivo, televisivo: a telenovela brasileira.

Verificamos que as narrativas de Dias Gomes dialogam entre si dentro de um mesmo contexto histórico. De 1973, e os anos de chumbo, a 1985 e o início do desfalecimento do regime militar, Dias Gomes foi um autor que ousou dentro de sua ficção televisiva, tratar de elementos que refletiam, de forma crítica e socialmente engajada, o comportamento brasileiro por meio de suas personagens. Dentro das cosmovisões das cidades fictícias de Sucupira, Bole-Bole e Asa Branca, através do arco das personagens e seus conflitos, o autor foi estabelecendo quais elementos funcionavam dentro do contexto ditatorial, e através da repressão e censura, foi percebendo as brechas para se fazer críticas.

Concluímos que entre O Bem-Amado e Saramandaia, a ironia tão presente em sua obra, evolui para o Realismo Fantástico, como forma de escapar das mordaças da censura. Em Roque Santeiro, o ápice de sua maturidade como roteirista, as formas de driblar a censura acarretam em uma linguagem ácida e crítica na narração. Atrelado a isto, as personagens seguem como ponto primordial deste aspecto, sendo as responsáveis por engrenar qualquer trama, com seus anseios, medos, decisões e sonhos. E dentro da narrativa de Dias Gomes, as personagens seguiram então como as responsáveis por fazer a critica tomar forma, em uma época em que o ato de criticar era perigoso, subversivo e passível de morte.