Sistema de Submissão de Resumos, IX ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - 2019

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Tomada de decisão perceptual frente a múltiplas fontes de informação espacial
Alexandre Martins Fontes, Rodrigo Pavão

Última alteração: 2019-09-19

Resumo


As sutis diferenças de tempo e volume dos sons captados pelas orelhas esquerda e direita são as pistas que usamos para localização de fontes sonoras no plano horizontal. Essas pistas espaciais são denominadas ITD e ILD (diferença interaural de tempo e volume, respectivamente). O ITD é a principal pista para baixas frequências e não é relevante para altas frequências. De maneira oposta o ILD é a principal pista para altas frequências e não é relevante para baixas frequências.

Em experimentos prévios investigamos a estimação de azimute (posição no plano horizontal) a partir de ITDs de sons de baixa frequência apresentados por fones de ouvido e observamos que as estimações diferem sistematicamente dos azimutes esperados. Propusemos um modelo explicativo para esses vieses na estimação de azimute, em que ITDs mais discrimináveis teriam estimação de azimute satisfatória, enquanto ITDs menos discrimináveis teriam estimação estereotipada em um azimute definido a priori. Nossa hipótese inicial é a de que a quantidade de informação definiria a estimação de azimute: pouca informação geraria estimações mais enviesadas.

Investigamos essa questão em nosso experimento piloto, em que apresentamos as mesmas pistas espaciais em sons variando o número de onsets: os sons em “burst” teriam mais informação e seriam estimados com menor viés do que “beeps”. O resultado encontrado, no entanto, foi o contrário deste; isto é, a estimação de azimute usando beeps foi mais próxima do azimute esperado para os ITDs apresentados.

Uma possível interpretação desses resultados é a de que tanto ITDs (a pista que manipulamos nesse protocolo) quanto ILDs (que mantivemos em zero, “apontando” exatamente para frente) seriam importantes para a estimação de azimute. A divergência entre os azimutes apontados pelos ITDs e ILDs seria a causa desses vieses: beeps “ofuscariam” essa divergência enquanto bursts a “evidenciariam”.

Outra interpretação desses resultados é que nossa interface de resposta gere distorções na relação física. Caso a relação seja supervalorizada, o maior viés seria da condição “beep” e o menor viés da condição burst, como inicialmente hipotetizado. Não acreditamos que essa explicação seja verdadeira, uma vez que a distorção teria que ser extremamente grande.

No presente projeto propomos experimentos comportamentais em que (1) manipularemos ITD e ILD conjuntamente, verificando a influência na estimação de azimutes, e (2) repetiremos o protocolo do experimento piloto, alterando a interface de coleta de modo que o voluntário aponte fisicamente o azimute percebido. Adicionalmente, (3) apresentaremos sons através de fones de ouvido e também por arranjo de falantes, e (4) quantificaremos os ITDs e ILDs individuais dos participantes. Planejamos modificar o modelo explicativo de nossos experimentos prévios para se adequar aos possíveis novos achados.

Esse projeto potencialmente contribuirá para a compreensão dos mecanismos de localização de som e tomada de decisão perceptual. Caso verifiquemos que os ILDs são informativos para a localização de sons de baixas frequências, traremos contribuições teóricas e metodológicas ainda mais fundamentais, uma vez que é bem estabelecido na literatura que os ILDs não seriam relevantes para localização de sons de baixas frequências. Por outro lado, caso as diferentes interfaces gerem distorções na relação física entre ITD e azimute, nossa contribuição proverá uma explicação para a diversidade de achados incongruentes de vieses de estimação obtidos em diversos protocolos experimentais.