Conforme previsto no relatório parcial, na segunda metade da pesquisa demos prosseguimento ao roteiro de abordagem da filmografia de Luis Buñuel, concluindo os estudos sobre a fase mexicana e iniciando os da última fase, quando o cineasta volta a realizar filmes na Europa (sendo, por isso, referida como fase europeia). Também procedemos em acordo com a proposta apresentada no projeto inicial da pesquisa, que previa o estudo da obra do cineasta a partir das perspectivas do surrealismo (elaborada e utilizada por vários autores e autoras), do cinema da crueldade (elaborada por André Bazin) e do naturalismo (elaborada por Gilles Deleuze). Visto que, paralelamente à análise da primeira fase da carreira de Buñuel, o surrealismo já havia sido discutido no relatório parcial, para este relatório final preparamos a síntese dos estudos sobre o cinema da crueldade e do naturalismo.

Para elucidar o conceito de cinema da crueldade, bem como sua relação com a obra de Buñuel, realizamos a leitura e a análise de O Cinema da Crueldade (1989), coletânea de ensaios do teórico e crítico cinematográfico André Bazin, editada pelo cineasta (e também teórico e crítico cinematográfico) François Truffaut. Coincidentemente, todos (ou quase todos, mas esclareceremos isso posteriormente) os filmes comentados por Bazin na referida obra pertencem à fase mexicana da carreira de Buñuel, por isso adotamos tais filmes como referências para o estudo dessa fase, aliando, portanto, a análise do cinema da crueldade à análise da fase mexicana.

O estudo da perspectiva de associação da filmografia de Buñuel ao naturalismo foi baseado na leitura e análise das duas obras do filósofo Gilles Deleuze dedicadas ao cinema: Cinema I: A Imagem-movimento (1985) e Cinema II: A Imagem-tempo (2007). Apesar de Deleuze citar e comentar filmes pertencentes a todas as fases da carreira de Buñuel, dentre nossas referências bibliográficas primárias suas duas obras dedicadas ao cinema são as que mais diretamente trataram dos filmes da fase europeia. Por conta disso, e em consonância com os paralelos analíticos anteriormente estabelecidos (primeira fase/surrealismo, fase mexicana/cinema da crueldade), optamos por priorizar a análise dos filmes da última fase que foram mencionados por Deleuze, tomando-os como referências tanto para a análise do naturalismo quanto para a análise da fase europeia.